O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região manifestou nessa sexta-feira (5) total apoio e solidariedade ao padre Júlio Lancellotti e ao seu trabalho junto à população em situação de rua da capital paulista. “O número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza aumentou com o descaso dos últimos governos e, em 2022, o IBGE registrou 67,758 milhões de habitantes, 32,6% da população brasileira. Somente na cidade de São Paulo são mais de 50 mil pessoas vivendo nas ruas. A tentativa de abertura de uma CPI para investigar o padre Júlio Lancellotti é uma distorção e um desvio de um problema grave, que precisa ser enfrentado com políticas públicas eficientes”, afirmou a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro.
No dia 6 de dezembro de 2023, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) protocolou na Câmara Municipal de São Paulo pedido para instaurar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar ONGs que fazem trabalho social na região da cracolândia. O principal alvo da CPI seria o Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, que distribui alimentos, roupas e itens de higiene para pessoas em situação de rua.
Por meio da campanha Bancário Solidário – que reúne todas as iniciativas de solidariedade da entidade – o Sindicato incentiva a categoria a realizar doações para a Paróquia São Miguel Arcanjo, da qual o Padre Júlio Lancellotti é pároco.
Também foi por meio da campanha Bancário Solidário que o Sindicato – em parceria com a Rede Rua e o Movimento Estadual da População em Situação de Rua do Estado de São Paulo – utilizou a Quadra dos Bancários durante a pandemia para a produção e distribuição de cerca de mil marmitas por dia para a população em situação de rua. Tudo graças às doações dos bancários, empresas e entidades parceiras.
“Durante três anos, a Quadra dos Bancários virou um símbolo da luta contra a fome para as pessoas em situação de rua e também para as afetadas pela crise sanitária. Além da distribuição das marmitas, o Sindicato também instalou um bebedouro com água e sabão para uso livre em frente da Quadra dos Bancários. O Padre Júlio Lancellotti participou da inauguração. Seu trabalho é fundamental e um símbolo de resistência e auxílio ao próximo”, destaca Neiva.
Quando foi protocolado o pedido de abertura, no início de dezembro, a CPI contava com o apoio de 25 vereadores. Entretanto, até o dia 5 de janeiro, em decorrência da forte reação contrária da opinião pública, oito vereadores retiraram seu apoio à proposta. Com isso, a CPI passaria a contar com apenas 17 apoios, dois a menos que o número mínimo de 19 para que a proposta possa ser votada em plenário.
Com isso, a proposta deve seguir na fila de 45 pedidos de CPIs protocoladas nesta legislatura e não será escolhida, no Colégio de Líderes, como uma das três CPIs votadas em plenário e, se aprovadas, instaladas no primeiro semestre de 2024 na Câmara Municipal de São Paulo.
A justificativa da maioria dos vereadores que retiraram o apoio é de que teriam sido enganados por Rubinho Nunes, que no documento protocolado para a abertura da CPI não citou o Padre Júlio Lancellotti, ao contrário das suas declarações recentes nas redes sociais, que mostram claramente que o pároco seria o alvo da CPI.
“Vou arrastar ele para cá em coercitiva, nem que seja algemado”, disse o vereador. “Eu vou fazer um raio-x, vou fazer um exame nas entranhas desse sujeito, todo mundo vai saber o que tem por trás do Lancellotti”, completou na postagem.
Desde que veio à tona o pedido de CPI, formou-se nas redes sociais uma enorme onda de apoio ao pároco.
“Graças a Deus a gente tem figuras como o Padre Júlio Lancellotti, na capital de São Paulo, que há muitos e muitos anos dedica a sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania as pessoas em situação de rua. Que dedica sua vida a seguir o exemplo de Jesus. Seu trabalho e da Diocese de São Paulo são essenciais para dar algum amparo a quem mais precisa”, postou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Acompanhamos com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Julio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua”, afirmou em nota a Arquidiocese de São Paulo.
Entre artistas, intelectuais e políticos que manifestaram seu apoio ao Padre Júlio Lancellotti por meio das redes sociais estão nomes como Ailton Krenak, líder indígena e escritor recentemente eleito como imortal da Acadêmia Brasileira de Letras; Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do Brasil; o deputado federal e pré-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos; o humorista Marcelo Adnet; a cantora Daniela Mercury; os atores Bruno Gagliasso e Elisa Lucinda; entre muitos outros.