O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), filósofo e professor Renato Janine Ribeiro, destaca a urgência da humanidade por ações concretas contra as mudanças climáticas. O alerta está inserido no contexto da cúpula do clima da ONU que se realiza em Dubai, a COP28. Inclusive, como já disse o secretário-geral da ONU, António Gutérrez, pode já ser tarde demais. Ribeiro concorda. “A COP28 não resolverá a emergência climática que vem sendo alertada há décadas, mas pode impulsionar as urgentes soluções fundamentais”, argumenta.
O pensador lembra que os tratados internacionais de outrora para controlar o aquecimento global contaram com o desprezo dos signatários. Entre eles, destaque para o Acordo de Paris, de 2015. “Neste encontro, divulgarão o primeiro Balanço Global do Acordo de Paris. Firmado por 197 países, incluindo o Brasil, em 2015, o acordo tem como principal meta evitar o aquecimento acima de 1,5°C em relação à era pré-industrial. O que hoje parece uma meta impossível”, disse, em editorial dessa sexta-feira (1º) do veículo de divulgação da entidade, Jornal da Ciência.
Então, de forma crítica, o filósofo afirma ver esta cúpula como um ponto essencial para entender o progresso, ou a falta dele, nas ações governamentais dos últimos anos. Finalmente, ele lembra do cenário crítico e iminente que apontam estudos mais recentes. “Notícias desta semana indicam que cidades como Rio de Janeiro, Sydney e Santospoderão ser inundadas, parcialmente, até o fim do século. Literalmente, o horror bate às nossas portas, pior que isso: ele as escancara! O apocalipse não está num futuro distante: ele está aqui e agora.”
Contudo, nem tudo no presente cenário é trágico. O Brasil, país essencial no diálogo sobre preservação ambiental e combate às mudanças climáticas, voltou a exercer seu papel. Em menos de um ano, o governo Luiz Inácio Lula da Silva reverteu grande parte dos estragos sem precedentes promovidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Particularmente na Amazônia, onde os dados dão conta de um esforço heroico para frear, com sucesso, uma devastação sem precedentes impulsionada pelo extremista Bolsonaro.
Então, Ribeiro comemora isso. “Após quatro anos de boiada passando livremente, com o aval de um governo extremamente negacionista, o Brasil tenta recuperar seu protagonismo nas negociações que envolvem a pauta ambiental mundial”, afirma. “O Brasil, ao voltar a ser um participante ativo nessas negociações, precisa alinhar suas resoluções com o discurso, encarar os desafios internos e consolidar seu compromisso com a preservação ambiental”, completa.
Embora a mudança de governo seja indubitavelmente positiva, os desafios não param de aumentar. O Brasil parece ter se tornado um laboratório do aquecimento global. Eventos climáticos extremos viraram comuns. Calor extremo, secas históricas e o ano de 2023 sendo o mais quente em mais de 120 mil anos. Então, o professor lembra que, para avançar mais, o governo Lula precisa encarar um parlamento majoritariamente conservador, ruralista, que despreza o meio ambiente.
“O esforço do governo brasileiro para voltar a ser uma liderança nesses debates também encontra desafios internos, especialmente em seu parlamento majoritariamente conservador e terrivelmente influenciado pela bancada do boi”, afirma. Um dos exemplos, lembra Ribeiro, é a liberação de agrotóxicos pelo Parlamento, que segue em ritmo de “liberar a boiada”. “A recente aprovação no Senado do projeto de lei que flexibiliza a autorização para o uso de agrotóxicos coloca em xeque a coerência do discurso do Executivo no enfrentamento das questões ambientais.”
Então, o filósofo também lembra que a próxima conferência do clima será no Brasil. Graças a intensa articulação de Lula, o mundo voltara os olhos à Amazônia em 2025, na COP30 de Belém. “A avaliação do Balanço Global será um guia para o estabelecimento de novas metas climáticas nacionais, a serem apresentadas na COP30, em 2025, em solo brasileiro. Lula retornará da COP28 com muita lição de casa e pouco tempo para resolver a falta de alinhamento com o Parlamento brasileiro e demais instâncias do poder no país, além dos outros setores-chave da economia e da sociedade.”