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Cultura Tocantins

Governo do Tocantins realiza Roda de Conversa em Natividade com apresentações de Suça em alusão ao Novembro Negro

Evento “Novembro Negro: a cultura como caminho para conscientização” reforçou, em Natividade, a importância das tradições culturais no fortalecimen...

07/11/2025 às 13h55
Por: Redação Fonte: Secom Tocantins
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Suça foi utilizada para reforçar o pertencimento à cultura negra - Foto: Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
Suça foi utilizada para reforçar o pertencimento à cultura negra - Foto: Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins

Pisar no solo sagrado das Ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Natividade, é também um ato de orgulho e pertencimento à herança cultural negra. Dançar, nesse mesmo local, a suça — expressão que mistura ritmos e elementos ancestrais dos nativitanos — é reviver saberes transmitidos por gerações. Foi com esse espírito que o Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), realizou, na quinta-feira, 6, o eventoNovembro Negro: a cultura como caminho para conscientização.

Nas ruínas da igreja, foi promovida uma roda de conversa com a participação de servidores da Secult, representantes de outras secretarias estaduais, do município de Natividade e de coletivos culturais. O encontro também contou com rodas de suça com grupos locais. O objetivo foi iniciar o mês de novembro valorizando a cultura negra e reconhecendo a suça como uma expressão de resistência e preservação da identidade tocantinense.

No fim da tarde, crianças, jovens, adultos e idosos se reuniram para celebrar uma das mais importantes heranças locais. A dança, marcada pelo som dos tambores e da viola — acompanhados pela caixa e pelo atabaque —, encanta pela sincronia dos passos e pela energia do grupo. No balanço das saias e no compasso dos pés, cada gesto ganha vida e sentido.

Ancestralidade

Os anfitriões abriram os momentos de fala expressando a identidade e a força da tradição local. Dona Felisberta Pereira, mestra suceira e responsável pelo grupoSuça Mãe Ana, destacou que cultura é rezar, cantar, falar, dançar, comer e fazer acontecer. “Aqui em Natividade, a gente não fala só de cultura. Falamos das garrafadas, do rapé, dos xaropes, da multimistura — tudo isso faz parte da medicina caseira, dessa herança deixada pelos negros. E falo com muito orgulho: sou herdeira dessa tradição. A cultura, seja rezando, cantando ou dançando, é resistência. É continuar mesmo quando dizem que essa dança é coisa de negro — e dizer com orgulho: é sim, e é linda. A nossa resistência é cantando, dançando e levando alegria!”, afirmou.

Belarmino Romão Ferreira, líder do grupoCatireiros de Natividade, também ressaltou o valor da cultura como instrumento de educação e conscientização. “A catira, para mim, é uma música educativa. Minhas composições buscam orientar as pessoas sobre o meio ambiente e a natureza. Enfrentamos preconceitos, mas precisamos ter consciência de que o que fazemos representa a cultura de um povo, a nossa ancestralidade. É dar continuidade ao que nossos antepassados viveram”, declarou.

A jovem Iara Santana Rocha, de 13 anos, integrante do grupoSuça Tia Benvinda, contou como se apaixonou pela cultura local. “Sempre via meus amigos dançando e achava bonito. Depois que entrei, me apaixonei. Amo a minha cultura! Participar do grupo é como estar em uma segunda casa. Quando danço, me sinto alegre e em paz”, disse.

A professora Verônica Tavares de Albuquerque, responsável pelo Ponto de CulturaTia Benvinda, reforçou que a dança é identidade, pertencimento e resistência do povo negro. “Trabalhamos semanalmente com as crianças, valorizando as tradições negras. O nosso objetivo é perpetuar essas manifestações por muitos séculos. Cada verso e cada sapateado contam a história do povo sertanejo e do nosso território”, explicou.

Roda de Conversa

O superintendente de Fomento e Incentivo à Cultura da Secult, Antônio Miranda, destacou o compromisso do Governo do Tocantins com o combate ao preconceito e o fortalecimento das expressões culturais. “Foi aqui, em Natividade, que tudo começou. Aqui nasceu o Estado do Tocantins, e é aqui que essa cultura se manifesta de forma singular, colocando o fazedor de cultura como protagonista. Estamos aqui para ouvir e aprender, porque os verdadeiros mestres são vocês”, afirmou.

O secretário municipal de Cultura e Turismo de Natividade, Justino Pereira, ressaltou a importância da ligação entre a cultura e a Consciência Negra. “A nossa cidade foi construída pelas mãos de pessoas negras, e todas as nossas manifestações remetem aos antepassados. A suça é um exemplo vivo dessa herança. Relacionar o Mês da Consciência Negra com Natividade é coerente e simbólico. Preservar é a palavra que melhor define Natividade”, disse.

O diretor de Fomento e Proteção da Cultura Afro-Brasileira da Secretaria de Estado da Igualdade Racial (Seir), Ênio Sales de Oliveira, alertou sobre a importância de políticas permanentes de valorização da cultura negra. “É nosso dever garantir que essa cultura tenha um plano efetivo de políticas públicas, e não apenas ações pontuais em novembro. A nossa identidade negra é formadora de uma civilização afrodiaspórica e pulsante. Precisamos refletir, a partir da cultura, sobre como enfrentar o racismo”, ressaltou.

A secretária-executiva da Secretaria de Estado da Mulher, Warner Macedo Camargo, reforçou a relevância da união entre instituições para a preservação da memória. “Essas ruínas representam a nossa história e guardam as marcas de vidas que contribuíram para construir esse lugar. Natividade mantém viva essa tradição, e é preciso reconhecer e valorizar seus guardiões”, enfatizou.

Também participaram da mesa de debates a gerente de Convênios e presidente da Comissão de Editais da PNAB, Simone Moura; a presidente da Associação Cultural de Natividade (Ascuna), Simone Camelo; e o professor e escritor Wátila Misla. Da Secult, estiveram presentes o gerente de Desenvolvimento da Cultura, Luciano Pereira, e a gerente de Fomento, Planejamento e Parcerias Culturais, Savana Sanches.

Apresentações de Suça

O evento foi encerrado com apresentações dos gruposTia BenvindaeMãe Ana. Nas ruínas, crianças, jovens e adultos se uniram em uma celebração de amor pela suça e pela cultura herdada dos antepassados.
Sob a Bandeira do Divino e em oração, o encerramento reforçou o sentimento de pertencimento e a importância das manifestações culturais no combate a qualquer forma de preconceito.

Governo do Tocantins realiza Roda de Conversa em Natividade com apresentações de Suça em alusão ao Novembro Negro
Evento foi finalizado com apresentações de suça pelos grupos Tia Benvinda e Mãe Ana - Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
Governo do Tocantins realiza Roda de Conversa em Natividade com apresentações de Suça em alusão ao Novembro Negro
Coordenadora do Grupo de Suça Tia Benvinda destacou a importância das aulas semanais do coletivo, que visam a ensinamentos que vão além da dança - Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
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Dona Felisberta Pereira falou do orgulho e do poder de repassar conhecimentos ancestrais aos mais jovens - Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
Governo do Tocantins realiza Roda de Conversa em Natividade com apresentações de Suça em alusão ao Novembro Negro
Da esquerda para a direita, o superintendente de Fomento e Incentivo à Cultura, Antônio Miranda, prestigia roda de suça ao lado dos catireiros Patrício Dias e Belarmino Romão e do secretário de Cultura e Turismo de Natividade, Justino Pereira - Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
Governo do Tocantins realiza Roda de Conversa em Natividade com apresentações de Suça em alusão ao Novembro Negro
Mesa de debates contou com representantes das secretarias de Estado da Secult, Mulher e Igualdade Racial, além de representantes de coletivos e do município de Natividade - Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
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Roda de conversa proporcionou debates sobre a Consciência Negra em Natividade - Marco Antônio Gama / Governo do Tocantins
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