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Campina Grande sedia evolução do maior São João do mundo

Festa reúne milhares de pessoas e movimenta R$ 740 milhões

24/06/2025 às 12h14
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
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© Tomaz Silva/Agência Brasil
© Tomaz Silva/Agência Brasil

O Parque do Povo, palco de uma das maiores festas juninas do Nordeste, em Campina Grande, na Paraíba, espera receber milhares de pessoas neste dia de São João (24) - o ápice da festa - para shows com grandes nomes do forró como Waldonys, Ton Oliveira e Geraldo Azevedo.

O espaço tem capacidade diária para 76 mil pessoas e é fechado quando atinge a lotação máxima, o que deve ocorrer nesta terça-feira, feriado na cidade. No entanto, nem sempre o autointitulado maior São João do Mundo foi uma festa popular tão gigantesca quanto nos dias de hoje.

Assim como era comum em várias cidades do Nordeste, Campina Grande, situada no Planalto da Borborema, a uma altitude de 580 metros acima do nível do mar e distante 126 quilômetros da capital João Pessoa, mantinha até meados dos anos 80 uma festa junina de caráter comunitário, realizada de maneira orgânica pelos moradores, que se reuniam em frente às suas casas com fogueiras acesas, ruas decoradas e a apresentação improvisada de grupos de forró em palhoções .

Em 1983, a prefeitura de Campina Grande assumiu a festa, mas a celebração ainda era modesta, improvisada em uma palhoça na região conhecida como Coqueiros de Zé Rodrigues.

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Três anos depois, em 1986, o então prefeito Ronaldo Cunha Lima decidiu profissionalizar os festejos, transformando Campina Grande na sede do maior São João do Mundo. Foi em sua gestão que o Parque do Povo foi construído, uma área que à época possuía 27 mil metros quadrados.

Naquele tempo, a festa tinha um calendário estendido, indo além dos dias em que eram comemorados Santo Antônio, São João e São Pedro. "Não existe nada igual no Brasil, porque são 30 dias de festa ininterrupta, com a participação dos campinenses de todas as camadas sociais", disse um ex-prefeito em entrevista em 1986.

Hoje, o evento se estende por 38 dias (de 30 de maio a 6 de julho), atraindo mais de 3,5 milhões de pessoas e movimentando cerca de R$ 740 milhões. O Parque do Povo continua sendo a arena principal. Em 2024, o espaço passou por uma expansão, incorporando o vizinho Parque Evaldo Cruz. Com isso, a área da festa cresceu 7.500 m² e atingiu quase 40 mil m².

Diferente do que acontece em outras festas juninas pelo país, o espaço do Parque do Povo é cercado, embora com entrada gratuita. A estrutura lembra um grande festival de música, com palco principal, palcos paralelos, áreas para apresentações de quadrilhas juninas e uma decoração que encanta. O parque também conta com uma ampla praça de alimentação, com restaurantes renomados na cidade e barracas de ambulantes cadastrados, totalizando mais de 400 pontos comerciais. Há, como é comum em festivais hoje, a presença de estandes de marcas dos mais diversos produtos.

Os patrocinadores da festa buscam chamar a atenção do público com jogos e distribuição de brindes entre um forró e outro.

Quem já se divertiu no Parque do Povo no passado estranha a proporção que a festa tomou. É o caso do casal de aposentados Valmir França e Carmem França, moradores de Recife, que decidiram retornar a Campina Grande 30 anos depois do último São João passado na cidade. "Eu acho que está tudo bem organizado, é uma estrutura muito bem montada, mas 30 anos atrás, quando a gente veio, não tinha nada. É uma diferença enorme", afirmou Valmir.

Outro personagem que presenciou as transformações do São João de Campina Grande ao longo dos anos é o empresário José Ventura Barbosa, dono da Bodega do Ventura, restaurante que, desde 1994, tem presença garantida no Parque do Povo.

"Quando eu comecei aqui, a gente vendia em barracas de lona de 5x5 metros, depois de 10x10. A festa cresceu e crescemos com ela. Hoje, para ter essa estrutura aqui com decoração e móveis, para erguer isso aqui o investimento básico é de R$ 50 mil", pondera.

Vendas em alta

O investimento, segundo ele, vale a pena. O restaurante, que serve comidas típicas e tem o bode como carro-chefe no cardápio, tem capacidade para receber 160 clientes. A festa segue até o fim de junho, mas Ventura diz que as vendas estão melhores do que no ano passado. Prova disso é que sua equipe precisou de reforço, com 15 contratações para o período da festa junina.

Entre os funcionários que integram a equipe está Kainã Garcia, autônomo que tem trabalho garantido até 6 de julho como garçom na Bodega do Ventura. Seu último trabalho havia sido no mesmo local, no São João de 2024.

Com a escassez de trabalho temporário e sem perspectiva de algo fixo, ele garante que conta com o dinheiro do São João como certo. "A gente brinca aqui que, em janeiro e fevereiro, a gente já pode pedir dinheiro emprestado porque sabe que vai poder pagar em junho." E não poder curtir a festa, para ele, não é problema: "Entre ganhar dinheiro e gastar, a gente prefere ganhar!"

Outra mudança significativa ao longo dos últimos anos foi a musical. O forró, embora ainda seja o gênero predominante em Campina Grande, agora divide seu reinado com outros ritmos. A programação deste ano na cidade incluiu desde a música eletrônica do DJ Alok, o brega de Priscila Senna e Raphaela Santos, o calypso de Joelma, o trap de Matuê e o rap de Hungria, que se apresentarão até o fim da programação. Há quem reclame da perda de hegemonia do forró e também dos cachês milionários pagos a artistas com renome nacional, mas há outros, principalmente os mais jovens, que aprovam a incorporação de novos ritmos.

"Eu acho que o São João é uma festa popular, tem espaço para o que é música popular no geral, não importa o gênero. Seja rock , pop , reggae , não importa", argumenta o administrador Mateus Ernesto.

Nos palcos menores da festa, espalhados pelo Parque do Povo, artistas e músicos locais com cachês bem inferiores aos das grandes estrelas disputam a atenção do público.

Música

Junto com os colegas do Trio Forrozão Sem Frescura , a cantora Jussara Damião, moradora de Queimadas, município da região metropolitana de Campina Grande, começou seu show chamando os presentes para dançar, sem esquecer de agradecer à prefeitura de Campina Grande.

Segundo ela, os cachês poderiam ser melhor divididos, mas mesmo assim estava feliz pela agenda cheia. No total, o trio fará oito apresentações no Parque do Povo até o fim da festa no começo de julho.

"As coisas podiam melhorar um pouco, mas todo ano pelo menos dão oportunidade pra gente. Aqui em Campina Grande somos mais valorizados do que na nossa cidade", explicou.

Entre moradores de Campina Grande e turistas de todo o Brasil que vieram à cidade para curtir a festa, há aqueles que veem o evento para além da diversão e de seu tamanho gigantesco. São avós e pais que tentam passar para netos e filhos o valor da tradição e da reafirmação da identidade nordestina que pulsa mais forte nesta época do que em qualquer outra ao longo do ano.

Quem circula pelo Parque do Povo encontra casais, grupos de amigos e muitas famílias. Elas estão presentes nos shows e nas arquibancadas durante as apresentações das quadrilhas juninas multicoloridas que deixam o público de olhos vidrados. A bióloga Juliana Soares, que cresceu em uma casa onde o São João sempre foi levado a sério, fez questão que a filha Maria Laura, de cinco anos, participasse da quadrilha junina infantil que se apresentou no Quadrilhódromo , local para as apresentações das quadrilhas dentro do Parque do Povo.

"Quando a gente vem com criança, a gente quer passar isso também, passar essa tradição pra frente, para que ela [a criança] tenha orgulho de ser nordestina. Que possa sempre dizer: ‘Eu vim do Nordeste, eu amo minha cultura, eu amo a minha raiz”.

*A equipe viajou a Campina Grande a convite da Petrobras

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